quinta-feira, 29 de março de 2012

Se a cruz pesada for, Cristo estará comigo...




Cada dia a cruz fica mais pesada.
Já tive momentos assim, e eu sei que passarei por ele, pois no meio do vale das sombras da morte, não há como voltar, devo continuar, sem temer.
Mas é dificil. O corpo físico está fraco, debilitado; o psicológico abalado.

Então em prece eu oro: 
Deus misericordioso, não renuncio minha cruz, ela é minha e devo carrega-la, mas ajudai-me a isso.
Seja meu Sirineu, divide comigo essa dor, essa angustia, e me fortalece pra que eu possa levá-la até o fim. Amém







terça-feira, 27 de março de 2012

Vem e lançai as suas redes novamente...

Hoje foi um dia bem difícil,não tenho conseguido comer e a fraqueza do corpo as dores, o desconforto e os enjôos, me tiraram a razão. E por mais que eu já tenha passado por tantos dias assim e por isso mesmo, saber que vai passar, tem horas que manter a serenidade fica bem difícil. Hoje chorei implorando piedade ao Senhor. O dia passou, veio a noite e quando o dia parecia ter sido perdido, como todos os pós quimios, eis que debaixo de chuva, batem a porta e recebo uma visita. Pastor Rafael Carneiro, um querido, antes de homem de Deus, um ser humano admirável. Veio orar por mim, isso por si só já seria uma benção, vou transcrever porque achei muito interessante a analogia que ele fez, com o convite que Jesus fez a Pedro, o de relançar as redes, mesmo depois de um dia inteiro de tentativas frustradas...

“Lançai as vossas redes para pescar” (5:4). Pedro, André, Tiago e João eram pescadores profissionais, ganhando as suas vidas na carreira que aprenderam e praticaram neste mesmo lago. Neste dia em que Jesus chegou para ensiná-los, eles já haviam passado a longa noite anterior numa tentativa frustrada de pesca. Quando Jesus pediu que colocassem as redes na água novamente, Simão Pedro reagiu rapidamente, dizendo, “Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos...” (5:4). Afinal, quem era este carpinteiro para ensinar quatro pescadores como pescar? Ele obviamente não sabia que era melhor pescar de noite, e não de dia! Ele obviamente não sabia que os peixes estavam em outra parte do lago, já que Pedro e os outros profissionais haviam pescado a noite inteira sem sequer encontrá-los nesta região! Porém, Pedro já conhecia a Jesus. Foi este carpinteiro que Pedro viu expulsar um demônio da sinagoga em Cafarnaum usando apenas a sua palavra (4:36). Depois, foi este mesmo carpinteiro que havia curado a sogra dele e muitas outras pessoas (4:38-41). Por conhecer Jesus e o poder de sua palavra, Pedro se segurou no meio de sua objeção e disse, “sob tua palavra lançarei as redes” (5:5).
“Apanharam grande quantidade de peixes” (5:6). Quando Pedro deixou de confiar na sua própria experiência e na sua própria sabedoria, ele escutou a Jesus, e o resultado foi surpreendente! Apanharam tantos peixes que as redes estavam prestes a se romper (5:6). Por causa da enorme quantia de peixes, Pedro e André pediram a ajuda de seus sócios, Tiago e João (5:7). E quando estes vieram, encheram os dois barcos “a ponto de quase irem a pique”! (5:7)

Ele comparou a minha luta ( a nossa) aquela noite em que jogaram as redes inúmeras vezes e nada pescaram. E já cansados lavam as redes para guardá-las e eis que vem Jesus e diz: Lilian, jogue sua rede e argumentando já ter feito isso tantas vezes, Jesus insiste que eu lance minha rede em alto mar, em dia, horário impróprio pra isso e então porque Jesus me pede eu lanço a rede e então mal consigo trazer a tona tanto peixe...
Achei extraordinário a analogia, quantas vezes joguei a rede, pedi força, pedi a cura, pedi arrego, e em vez disso “pesquei” mais uma dor, nova metástase, novo diagnóstico, retirei redes vazias... E já cansada, lavei minhas redes e as guardei. Então Jesus me chama pelo nome e diz: Lance sua rede, por minha palavra, lance sua rede. E eu lançarei, lançarei quantas vezes preciso for, porque eu sei que a cura, minha vitória seja ela de que maneira vier, virá pela graça de Deus, porque estou em alto  mar e não dá mais pra voltar...


sábado, 17 de março de 2012

Eu quero ser pipoca.

Como professora eu amo demais muitos autores como Augusto Cury, Celso Antunes, Paulo Freire, mas nenhum como Rubem Alves... Fui apresentada a ele no curso de Pedagogia por meu professor de Filosofia Claudir Vivan, pensa num profe maravilhoso, nos tornamos amigos. Quem não conhece o Rubem Alves, procure conhecer, ele fala fundo com coisas cotidianas da vida, culinária, natureza . Este texto, de sua autoria, fala de algo banal, a PIPOCA. Acha que uma pipoca pode não ensinar nada? Ensina e muito, eu amo este texto, fala muito do momento que estou passando, pelo fogo, fogo este necessário para... Bom, vou deixar você ler e saber para que...



A transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação por que devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser. 

O milho de pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro.
O milho de pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer.
Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre. 
Assim acontece com gente. As grandes transformaçoes acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira.
São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosas. Só elas não percebem. Acham que é o seu jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo.
O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor.
Pode ser o fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder o emprego, ficar pobre.
Pode ser o fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão, sofrimentos cujas causas ignoramos.
Há sempre o recurso do remédio. Apagar o fogo. Sem fogo, o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação. Pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pensa que a sua hora chegou: vai morrer.
Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz.
Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: Bum! E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente, com que ela mesma nunca havia sonhado.
Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar. São aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. A sua presunção e o medo são a dura casca que não estoura. O destino delas é triste. Ficarão duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca e macia. Não vão dar alegria a ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo. 

E você o que é? Uma pipoca estourada ou um piruá?

terça-feira, 13 de março de 2012

Sei lá, entende?

Eu não sei ao certo como estou me sentindo pós diagnóstico da metástase na coluna. Mas desesperada com certeza não mais.
Ouvir um não tem cura, vamos trabalhar com tratamento paliativo, foi algo realmente bem cruel para quem vive na esperança da cura. Na hora o baque foi tão grande que eu só ouvi isso e bloqueei os demais sentidos. Mas passado o susto inicial, como sempre, eu fui internalizando o diagnóstico, pesquisando sobre outros casos, sobre os rumos que o tratamento irão tomar e fui crescendo, crescendo em minha fé.  
Enfim, eu me recuso a tratar algo incurável, porque simplesmente me recuso a pensar que algo não tenha cura, eu não tomo isso como verdade em  minha vida, não tomo posse dessa “imposição”, era isso na verdade que me incomodava, como assim, não tem jeito, não tem mais cura e Deus? E o meu Deus que é o Deus do Impossível ? Onde fica? Não, não vão tirar de mim o que me mantém viva e firme na luta, que é a fé , a crença  no Poder de Deus em minha vida. Na crença que sou sua filha e como sua filha herdeira das promessas.
Tenho recebido muitas visitas, cada qual com suas crenças, religiões, convicções e é claro, entendo perfeitamente que tenham que falar, me aconselhar conforme essas crenças, ai do cristão que se calar, isso tem fortalecido minha fé, embora eu não pense igual a algumas pessoas, as respeito e agradeço, agradeço muito por orarem por mim, comigo, tenho me sentido tão melhor. 
Fiz o reforço da quimio na sexta e como tinha muita dor, morfina na Lilian, ri da minha nóia, poxa eu fiquei fora do ar, eu pensava, mas meu pensamento não chegava em minha boca, as palavras não saiam, Dirceu ficou bem atordoado, eu ria de estar bêbada daquele jeito e fazia graça com ele, num “tintia” nada. De volta pra casa, as dores têm sido menores, se posso até as suporto, o que tem me deixado apreensiva é a falta de força nas pernas, no mais, tenho animado as pessoas que visitam, pois esperam encontrar uma moribunda e acham eu aqui, linda e loira, quer dizer, preta , gorda e viva, firme que nem poste no banhado. O que me faz pensar em como as pessoas vivem de aparência.  Pra estar doente, tem que estar caindo aos pedaços, se faço quimio, tenho que estar careca, senão é da fraca  (em essa quimio quase me mata), não posso rir, fazer piada, sair, ao mesmo tempo exigem de mim uma fortaleza, uma fé inabalável, um apetite voraz. Vai entender...
Por isso o “sei lá, entende”? Não sei ao certo como estou, amortecida talvez, esperando a próxima consulta pra saber as cenas dos próximos capítulos, e enquanto espero, vamos a ela, a vida! Mesmo que devagar, devagar, devagarinho... Seguir em frente é a meta. Afinal ...








Além do horizonte deve ter
Algum lugar bonito
Pra viver em paz
Onde eu possa encontrar
A natureza
Alegria e felicidade
Com certeza... 

quinta-feira, 8 de março de 2012

FELIZ NOSSO DIA!

Esta é uma mensagem de um grupo fechado do facebook da qual faço parte com muito orgulho. Amigas do Peito. E uma integrante, fez essa homenagem a todas mulheres, principalmente as que foram acometidas pela doença, mesmo assim, continuam desempenhando seu papel de mãe, mulher, profissional, enfim, todas atribuições que só mesmo uma MULHER consegue fazer...

segunda-feira, 5 de março de 2012

Terceiro ciclo de quimio. Novo desafio! Cruel...

Sexta fui ao hospital para o terceiro ciclo de quimio e receber os resultados dos exames que fiz, tomografia, ecografia.  A boa noticia foi que não encontraram nada no pâncreas, rim e fígado, mas novamente fui surpreendida com a noticia que jamais gostaria de ouvir, há metástases na coluna e nesta não há o que fazer, apenas tratamento paliativo pra dor e me manter viva.
O que dizer pra uma mãe, esposa, profissional, cristã que tem se segurado até então em sua fé de que voltará a ser quem fora um dia depois de um diagnóstico desse?  Tentei, juro que tentei não me deixar abater por mais essa  noticia, mas não dei conta. Fui pra sala da psicóloga e deixei ela  doida, fui pra quimio chorosa e abalada, voltei pra casa, 7 horas  de quimioterapia depois, com a cabeça a mil, rodando mil filmes na minha cabeça, de filmes que já vi, mas principalmente dos que gostaria de ver, minha filha formando-se, de noiva no altar, chegando em casa com seus filhos e eles correndo pra mim gritando vovó, vovó... Eu chegando cansada da  escola;  enlouquecida com as contas a pagar, vendo meu pequenino fazendo formatura de pré, ensino médio, facul... Tornando-se um grande homem , integro e de caráter como o pai, amoroso como a mãe.
Chorei, desesperei, como nas outras vezes, mas desta vez foi diferente, porque eu não sentia o que foi dito, não sentia como verdade. É como se eu fosse acordar e sair deste corpo que já não é meu a tempos, desta vida que a doença me transportou.
Não tenho tido dores homéricas, mas agora já sabemos o que ocasionava a minha falta de movimento, e com isso pode-se instituir um tratamento, que não muda nada, diante da metástase no ovário e pele, apenas foi acrescentado mais um remédio e cálcio. Talvez eu faça radioterapia quando terminar as quimios que agora, já não sei mais se vão terminar um dia.
Dias vazios...São sempre assim depois das quimios, os enjôos, os defeitos colaterais acabam te consumindo e quando se vê, já é noite, madrugada e o dia amanhece. E gente lá, com toda  aquela ânsia louca de viver, vendo seus dias “vomitados” ralo abaixo.
Eu sei que o post ta confuso, confuso como eu, que não sei e nem quero ir contra mim e minha natureza de guerreira, quero viver, quero a cura, quero ficar boa, e sei o quanto isso irá me custar, a dor que terei que sentir, mas me recuso a ouvir que não tenho cura, me recuso a aceitar tratamento paliativo, me recuso a perder a fé, me recuso que sintam pena de mim, me recuso a me sentir assim, fraca, mas me deixo ficar, pra me fortalecer, porque eu não vou desistir não. Mas me diz, o que dizer pra dona Lilian diante de toda essa confusão de pensamentos e sentimentos? Eu até tento, mas neste momento e como se eu tivesse numa bolha assistindo isso de fora, não acreditando que essa seja mesmo a minha sina, que vou acordar, e nada disso será verdade. Embora eu saiba que é...