Sempre gostei da lenda da Fênix, a lendário pássaro da mitologia grega que, quando morria, entrava em auto-combustão e, passado algum tempo, renascia das próprias cinzas. Depois do diagnóstico, me tornei meio Fênix, quando vejo que vou “morrer”, me deixo entristecer, chorar, deprimir, sentir sentimentos ruins , desistir (sempre sem desistir), questionar. Mergulho no fundo do povo, mas, passado o luto, passado este estado de inércia, reergo a cabeça e me ponho em posição de luta; seja em pé, rastejando, carregada, caminhando, um milímetro de avanço, é avanço. Nem sempre foi assim, antes, me culpava, não me permitia parecer fraca, ter medo. Hoje já sei, que sentir tais coisas são inerentes aos seres humanos, que não sou mulher maravilha, que fraqueza e fragilidade são coisas distintas, que a fé pode se abalar, mas ela nunca se romperá a ponto de eu não acreditar mais em meu Deus maravilhoso, misericordioso e infinitamente bom.
Pois bem, esta semana foi uma semana de silêncio, a quimio me deixou bem enjoada e prostrada, a desesperança tomou conta de mim, acreditar ficou difícil, pedi pra que meu marido acabasse com isso, medo de não agüentar, não eu não agüentaria... 12 quimios, mais a viagem, Pai do céu quanta provação? Até que ponto entender que cada um tem a sua cruz? Que como filha amada Dele eu podia sofrer tanto? O que fiz? Quem sou eu pra merecer uma cura se Padre Léo teve milheres rezando por ele e ele não atendeu? E quantos rezam, pedem e ... e quantos conseguem. E os seus filhos? Eita Dona Lilian, volta pjá pra casinha... e na quinta eu rezei, clamei com todas forças do meu coração, e na sexta eu estava ótima, podendo andar com mais naturalidade, com medo do reforço da quimio (que foi tranqüila) ,mas lá; com vontade de viver, de dançar, de cantar. Eis que renasce a fênix, se é que posso me comparar a tanto.
Recomeçar de novo e de novo. Já é um estigma em minha vida, fora a doença, perdi um filho, irmão, mãe; a separação que naquele momento foi ao de tão ruim e me trouxe só coisas boas, meu querido marido que me cuida e me guarda que o diga.
Então que seja, vamos ao recomeço, os cabelos já dão indício de cair, pois o coro cabeludo esta ardendo e coçando, os enjôos são digamos suportáveis, o que incomoda é a prisão de ventre louca, parir meus filhos não é nada, parir um cocozinho custa dois dias de dor e suador, a coisa é feia, e com todos os recursos, fibras, ameixa, etc, etc
Hoje estou groguezinha, mas muito bem, bem mesmo, como a muito tempo não me sentia, bem na cabeça. A vida, pela qual eu luto, e tantos de nós lutamos por ela, é sagrada e divina, e ninguém sabe quando ela irá sucumbir, nós, neste estado temos a pretensão de achar que somos mais “propensos” a ela, mas na verdade, o que ninguém sabe é quando é sua hora, um enfarte, um desabamento, naufrágio, um escorregão na casca da banana e zás, adeuzin querido.
Então devíamos tomar uma postura diferente, a postura de qualquer um que recebe um diagnóstico de que sua vida esta por um fio , a de querer viver, de fazer planos e correr pra realizá-los, o de viver cada dia como se fosse únicos, de viver a vida com intensidade, como senão houvesse amanhã, porque se parar pra pensar, não há...
Tive medo, muito medo, tenho medo de não conseguir, tantos planos... Mas se fechar em concha, não vai ajudar, então borá lá, por a cabecinha pra fora da janela, respirar e esperar em Cristo, que senão a cura, que a qualidade de vida, a dignidade seja mantida, assim como os meus mais 40 anos... Todos eles a serviço do bem, pra agradecer, ser melhor e viver essa vida que é boa demais da conta, não dá pra largar o osso não.
Obrigado meus queridos pela força, pelos recados deixados, eu os li todos com muito amor, os relia a todo instante, senão respondia, é porque não queria deixar meu estado de espírito de porco deixar vocês tristes, todos com suas lutas diárias e individuais, mas juntos pelo mesmo desejo de cura, de vida, de luta, unidos pela fé no nosso Deus.
Beijos revigorantes pra vocês.
Lilian Carla Arguello Basqueira.
Nas asas do Senhor. Celina Borges
Nas asas do Senhor. Celina Borges