
Acabo de ler um relato de uma mãe. Nele ela desabafa sua aflição por descobrir uma metástase , a volta as quimios, os medos e a preocupação com os filhos, em eles a verem perderem os cabelos.
Então vem você e me diz que cabelos não são nadas, eles crescem e todo aquele blá, blá, blá de gente altamente espiritualizada e pra cima que não se encana com nada. Até que sejam os seus cabelos que caiam. Sinceramente não acredito que nenhuma de nós, não tenha se abalado com a perda dos cabelos. Não falo sobre o lado fútil da coisa entende? Porque pra muitos o motivo é bem torpe mesmo, supervalorizam essa perda e esquecem que o mal maior, o Câncer está agindo em algum lugar do corpo e que padrões de beleza não vão garantir sua vida, esta sim. A vida, é o que importa,
Falo da perda. Perder o cabelo para nós é mais um item na lista de tantas percas. Com o diagnóstico perde-se o chão, depois o sono, a tranqüilidade, a imunidade, dignidade, algumas partes do corpo, aquela certeza que isso não aconteceria comigo, e quando os cabelos caem, mais ou menos 21 dias após a primeira quimio, é como se a doença estivesse te afrontando, te dizendo: Oi eu to aqui, ela diz isso pra você a para sociedade, assim que colocas um lenço na cabeça, todo mundo já sabe que tu tem “a doença” , o sintoma mais aparente e que obriga as pessoas a não fingirem que não sabem que está doente. Então começa o coitadinha, ou o “em?, “Cuma”? a pessoa te vê, por acaso na rua óbvio, porque senão for assim, tu não vê amigo(verdade 1)e pensa: Cara..mbola, olha lá a Lilian, ela ta vindo pro meu lado, nossa coitada, ta careca, e agora o que eu digo, o que eu digo... E quando o encontro é inevitável, eu toda sorridente ( pq sou sempre assim) digo oi, e a pobre criatura que nunca viu um ser careca antes dispara. Oi Lilian, eu soube do seu problema (verdade 2), desculpe não ir te visitar, muita correria( mentira 1), e como esta o tratamento? Ela não te dá tempo pra responder (verdade 3) e já dispara, mas tu ficou linda de lenço( mentira 2 ou verdade 4 ), olha eu preciso ir( mentira 3) , mas qualquer coisa que precisar você me liga viu( mentira 4), e sai em disparada contente por me ver tão bem e feliz...(mentira 5), quando ainda diz que vai rezar por você, alegre-se, oração é o maior dos presentes.

Um adendo para explicações das mentirinhas
Mentira 1: Quando você é importante para uma pessoa não há correria que abone uma visita, existe e-mail, telefone, facebook e outra coisa, a gente não precisa ta perto pra ta junto ( copiei do Luan Santana, meu mais novo idalo), tenho amigas que estão do meu lado 24 horas e elas nem precisam sair da casa delas, ou estão comigo aqui, ou no pensamento, porque sei que posso contar. Estão incluídas nesse item ainda o: “tive medo de te achar mal”, “não queria te ver assim”, “eu não ia agüentar te vendo sofrer”. Ah, vai se lascar né. Helow, é a gente que sofre, vomita, caga, sente dor, é furada e os cambal.
Mentira 2: Podemos ficar lindas de lenço, mas ninguém ta a fim de curtir essa nova moda; e essa mentira pode ser até verdade, porque eu nunca vi uma pessoa ficar tão linda careca como a
Margaret do blog
http://www.margaretss.com.br/, e sinceramente, eu amo meus lenços.( clique no nome dela pra ve-la careca)
Mentira 3: Pode ser que precise ir mesmo, mas geralmente é desculpa pra sair depressinha da sua frente e da realidade que tu significa, a doença chegou perto...
Mentira 4: Tirando raras exceções, amiga, não liga. Não liga porque você pode se decepcionar, a dita cuja arruma uma maneira de ter esse ou aquele compromisso, diz que o feijão ta no fogo e pede pra ligar depois, na verdade eles querem é fazer caridade por “transmimento de pensação” e olhe lá
Mentira 5: Sai correndo te achando feliz nada, tá é se iludindo pra não ter sentimento de culpa, vamos combinar que nenhuma de nós é “feliz” tendo câncer, mesmo tentando se-lo, na verdade a criatura sai feliz por te ver bem e não teres morrido, sem que ela fosse visitar. Evita crises existenciais dela mais tarde, delas, porque as nossas crises começam no momento do diagnóstico e tenho a impressão que não acabam mais.
Agora as verdades. Verdade 1: Os amigos some. Ou pelo menos diminói consideravelmente.
Verdade 2: Seu problema = Câncer, deuzolivre dar nomes aos bois, a doença ainda é um estigma.
Verdade 3: Quando te perguntam como está, a resposta tem que ser , to bem. Ninguem tem a paciência de ouvir nossos ais, não entendem, por isso entre blogueiras e comunidades nas redes sociais, é tão comum termos amizades tão sólidas, mesmo que nunca tenhamos nos visto ou tocado, é a empatia que uma faz com a outra. Nos sabemos, nos entendemos. ( Salvo algumas loucas paranóicas que se acham as vítimas do mundo, essas BLOQUEIA)
Verdade 4: Ficar careca não é o fim do mundo e podemos sim ficar lindas, ou como diz minha amiga Sabrina, termos cabelos coloridos, eu gastei mais em lenços do que em cabeleireiros, não por vaidade, mas porque me apaixonei por eles. Assim como a careca era símbolo da doença, os lenços eram tipo, sabe aquela cena do filme Rambo em que o Silvester estalonge amarra a bandana na cabeça e vai pra luta? Eu amarrava o lenço e ia pra minha luta, era meu símbolo de guerreira.
Voltando ao assunto da careca... Porque tem muito mais verdades e mentiras nesta questão do que supõe nossa vã filosofia.
Estar careca é basicamente isso, mostrar a cara da doença para fora do seu corpo, as pessoas olham, murmuram, e quando essa mãe contou da aflição dos filhos em vê-la careca, eu pensei nos meus, os maiores ficaram tristes, mas levaram na boa, a de Gabi que hoje tem 10 anos, percebi que tinha vergonha e tentei fingir que não me incomodava com isso, e o menor, ele convive com o cai e volta dos cabelos da mãe, desde os 2 anos. Fomos juntos cortar os cabelos, ele faz carinho na minha careca pra eu dormir, isso tornou-se algo normal. Ver a mãe sem os seios, passando mal, indo a médico, ( ele até adora quando vou, pois fica com a tia-avó que lhe faz todas as vontades); mas tem coisas que incomodam ele, o fato de eu estar gorda, com barrigona . Quando essa mãe relatou sua angustia, eu tive uma baita vontade de abraça-la, contei a ela do meu “!problema” e de uma coisa que aconteceu comigo.

Matheus me pediu pra ir no medico e tira essa “comida” da minha barriga, eu ri, e fiquei envergonhada, porque é uma coisa que me incomoda mesmo muito, como não tenho seios, ela ficou muito grande como gravidez, confesso que já pensei que tem coisa, mas a medica me disse que são os remédio.Como ela não parava de insitir no assunto, eu contei que também não gostava e que era os remedinhos que faziam isso. Disse: Você ta vendo os cabelinhos da mãe crescendo? E mamãe não vomita mais, ta ficando boa né? Então, não é melhor o papai do céu vai deixar a mãe barrigudona aqui com o Teteu, do que levar ela lá no céu. Ele pensou e disse é. E pronto acabou o assunto. Dasveiz, subestimamos nossos filhos, que sendo filhos de uma guerreira, também os são. Eu já fui salva pela sabedoria deste anjo de 5 aninhos, muitas vezes. Quantas vezes, estirada no chão,olhei pra foto dos quatro e me levantei.

Mãe também precisa de carinho e colo, deita no colinho deles, conta a verdade (não precisa ser toda ela), confia na sua criação, tira a redoma de vidro deles, para que não se tornem medrosos lá no futuro e corram de seus amigos que por ventura tenham a desventura de terem câncer ou qualquer outro mal.
Beijos amadas, eu to com uma novidade aqui, a língua, digo, os dedos, estão coçando pra eu contar,mas vou esperar dar certo tá... beijos, beijos e a paz do Senhor Jesus a todos.